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Haja hoje para tanto ontem – 35 and couting!

Às vésperas de completar meus 35 anos de idade, embarquei para uma aventura. Saí de Cusco, no Peru e fui até Machu Picchu, a cidade perdida, caminhando. Foram 4 dias de trilha, cercado por visuais de tirar o fôlego e recuperando as energias dormindo em lodges* muito charmosos. O programa se chama LARES, e mistura trekking com atividades culturais locais com guias especializados e, diga-se de passagem, imperdível.

Fazia algum tempo que não viajava sozinho. Nas últimas vezes, sempre estive acompanhado de amigos, família ou a trabalho com colegas. Se você ainda não é adepto ou nunca vivenciou essa experiência, eu recomendo.

Passei a madrugada no avião no trajeto de Curitiba para Cusco e tive praticamente apenas uma tarde de adaptação à altitude. Chegando ao hotel, tentei descansar o máximo possível e me hidratar muito, pois logo pela manhã do dia seguinte as atividades começariam. Nunca tinha feito trekking antes e sabia que seria um grande desafio, pois além de ter que encarar a altitude, meu joelho esquerdo incomodava há algum tempo. No entanto, estava decidido a encarar a aventura. Após juntarem-se ao grupo 2 britânicos, 1 casal de americanos e 1 trio da Nova Zelândia, estava formado o nosso time que logo no briefing, mostrou muito bom humor.

Não sei se você já fez trekking, mas para mim foi uma novidade. Ao mesmo tempo em que estávamos em 10 pessoas, por diversos momentos me senti completamente sozinho, com milhões de pensamentos vibrando na cabeça. Decidi que ao invés de pensar no presente ou no futuro, faria uma reflexão de como tinha chegado aos 35, pensando nas coisas ruins e boas que até então. Quase impossível fazer um balanço da vida em tão pouco tempo, mas de repente me vieram as lembranças de todas as viagens que já fiz, dos lugares e pessoas que conheci e cara, isso começou a ficar muito divertido! Percebi que o meu maior bem até então é o meu passaporte.

Através do meu trabalho (sou agente de viagens há 15 anos), tive a oportunidade de conhecer muitos lugares, algo entre 60 e 65 países, mas pouco importa. Comecei a ir mais a fundo e puxei na memória minha primeira viagem internacional aos 7 anos, quando embarquei para a Patagônia, na Argentina e fui conhecer a famosa Bariloche.

Meio que sem querer, nunca mais parei. Virei um apaixonado por viajar, conhecer lugares, culturas e povos diferentes. E agora em 2018, resolvi colocar no papel todo esse turbilhão de ideias, memórias, lembranças e anseios, mas ao invés de escrever meus 20 lugares favoritos ou fazer uma lista dos 10 melhores, prefiro contar para você o que cada lugar que conheci marcou em mim, seja através de uma excelente ou péssima lembrança.

A regra é simples, não vai ter regra. Vou escrever de países, cidades e regiões de forma aleatória, deixar a memória fluir sem qualquer preconceito ou julgamento. Não vou citar nome de nenhum parceiro de viagem, sob pena árdua de esquecer alguém e cometer grave injustiça.

Experiências

Claramente você vai perceber que museus e igrejas não são o meu forte. Busco em minhas viagens ter experiências locais, sempre muito voltadas a beber e comer como os nativos

da região. Embarque comigo nessa aventura que deliciou minha cabeça durante meu caminho a Machu Picchu.

Labadee no Haiti ficará marcado para sempre na minha existência. Aos 12 anos, jamais esquecerei o mergulho livre que fiz e a receptividade daquele povo. Que lugar incrível!

Às quatro e quarenta da manhã, participei de uma cerimônia de oferenda aos monges budistas no Laos.

Nunca sairá da minha memória o mergulho com tubarões martelo em Galápagos, que medo!!!

Entrei no castelo de Salzburg, na Áustria, e me arrepiei inteiro, tive a certeza absoluta de que já estive naquele lugar.

Uma cavalgada molhada e gelada, que foi compensada com um belo vinho e um churrasco típico Uruguaio nos Pampas do Sul.

Como não lembrar da atolada de 4×4 a caminho de Santa Teresa, na Costa Rica? Que noite tensa!

Na Amazônia, pousar de hidroavião no meio da selva e na mesma viagem engatar um tucunaré de 20 lbs, não tem preço.

E os 250 dólares que ganhei no cassino em Punta Cana, hein?!

Conheci bem os Estados Unidos, morei em duas oportunidades, destaco muito as viagens para o Hawaii e para o Alaska, mas marcante mesmo foi a jornada de 8 horas caminhando do topo do Grand Canyon ao rio Colorado. Épico.

Ahhhhh Paris… comer mexilhão e tomar uma cerveja com a minha mãe nas ruas ao lado da Sacre Coeur foi inesquecível.

Entrar na Basílica do Sangue Derramado e encher o olho de lágrima em São Petersburgo, na Rússia, foi emocionante.

E que tal atirar de AK-47, entrar e caminhar pelos túneis de Cuchi, no Vietnã? Que lugar quente e apertado.

Certa vez, depois de uma Paella, tomei um porrete de rum em um bar cubano de Madri que não sei como acordei.

O que foi a briga com os Italianos na cidade de Téramo, quando nosso time de handebol do colégio foi jogar um campeonato na Itália? Esses caras são meus amigos até hoje.

E o que dizer da subida a pé na Muralha da China? Era 2:30 e fazia um frio de 0 graus… que loucura.

Em 2012, passei 12 dias a bordo de um veleiro nas ilhas Maldivas, pescando, mergulhando e surfando com 12 amigos.

E o que me diz da experiência de mergulhar com um tubarão branco e surfar a tão famosa onda de Jeffreys Bay, na África do Sul?

Do Panamá, ficou na cabeça a estrutura impressionante das eclusas, que troço incrível.

Do meu Brasil não tenho como não falar de Noronha, para mim um dos lugares mais lindos do planeta Terra. E o Carnaval no Rio e em Salvador, meu povo? Não perca essa chance de conhecer o seu país já!

Quero falar também da incrível experiência de conhecer Berlim inteira de bike, tomar uma cerveja num pub de 1800 em Amsterdã e trocar de copo de cerveja na cidade de Bruges, na Bélgica, a cada rodada. E o porrete na Oktoberfest de Munique? Quanta alegria! Comer carne de urso na Estônia e de veado na Finlândia na mesma viagem, dar aquela namorada na cidade norueguesa de Oslo, na qual o que mais me impressionou foi o valor do salário mínimo, 3.800 euros.

De Londres, minhas primeiras lembranças são as nuvens e o vento gelado, quanta injustiça! Mas ao caminhar em plena Oxford Street, vi três gerações de muçulmanos lado a lado, e como a globalização afetou seu modo de vestir, muito interessante. O avô estava todo nos conformes da tradição, com o turbante e a barba grande, o filho já tinha a barba bem mais curta e roupas mais comuns, enquanto o neto tinha uma barba rala, tênis sem meia e um Iphone nas mãos. Thanks Steve, good job!

Em Bangkok, vi um campeonato de Muay Thai em um estádio lotado. Lá também tive meu primeiro encontro com o Budismo.

Devorei uma carne mal-passada com molho agridoce de pimenta dedo de moça na cidade de Füssen, que tentei fazer igual várias vezes e não consegui. Que combinação! É por lá que começa a rota dos castelos no sul da Alemanha. Tomar uma cerveja na warpig em Copenhagen comendo uma fraldinha com a mão e cercado apenas por dinamarqueses foi uma experiência e tanto.

Fazer uma sessão de surf no KM 59 em El Salvador só com os amigos foi algo inédito. Acordar de madrugada para ver o sol nascer nos templos de Angkor Wat, no Camboja, foi incrível.

De Dubai, lembro de um pedaço de carne gigantesco e saboroso que comi depois de 12 dias só comendo peixe nas Maldivas.

Ahhh Istambul, tenho que abrir um novo parágrafo para falar dessa cidade. Tenho tantas lembranças tops de lá que até vou quebrar a regra que eu mesmo criei e citar várias passagens. A primeira lembrança remonta um jantar no Heina, às margens do Estreito de Bósforo, com dois tios muito queridos que já não estão mais aqui. Capital do império otomano, Istambul fica metade na Ásia e metade na Europa. Que choque cultural, pqp! Falar dos monumentos históricos é chover no molhado, mas tive uma passagem por aquelas bandas que me chamou a atenção.

Estávamos com a Alessandra, guia brasileira que mora lá e nos sugeriu um tour com os transportes locais. Aliás, quando tiver essa chance, opte por isso. Ao entrar no ônibus, percebi que quando ela foi pagar nossa passagem, o cobrador deu dois toques na mesa, ela soltou o dinheiro e ele pegou. Ela viu que percebi a situação e logo tratou de me explicar: ‘’João, aqui os muçulmanos são divididos em sunitas e xiitas, e um não pode encostar a mão no outro’’. Que loucura cara, o mesmo povo, a mesma religião e eles não podem se encostar? Ok.

Sigo buscando as lembranças, está começando a ficar difícil. Já visitei alguns museus muito massa: Hermitage, Dorsay, Louvre, Metropolitan, Olho, História Natural, Arte Islâmica, Anne Frank e etc., mas o que eu mais gostei foi o de Van Gogh em Amsterdã. Não sou muuuuito de museu, mas todos valeram a pena.

Doha – onde tive meu primeiro contato com o mundo árabe -, cidade interessante que tem mais carro do que gente!

Da Argentina tenho várias lembranças, mas a melhor delas foi uma pescaria de dourados de Fly Fishing que fiz no delta do rio Paraná. Já no Chile, a navegação no Estreito de Magalhães foi foda.

Me lembrei de um festival de jazz e blues no meio da rua em New Orleans… Quero voltar lá.  Outra vez, quase perdi o embarque do navio em Saint Marteen, e por pouco não me dei muito mal em uma pescaria no meio da selva colombiana, onde dormi em uma tribo indígena.

Vou ser injusto, mas da Grécia lembro do azeite de oliva e da salada grega. Peguei um dia de muito frio no final de maio e não teve praia.

Entrei na menor catedral da Europa na Croácia, e tomei a cerveja mais barata daquela semana.

Estava sendo cruel com a minha memória. Que noite maravilhosa que passei em um hotel dentro do Monte Saint-Michel, na Normandia.

Na República Tcheca tenho duas histórias boas. Visitar a fábrica da Pilsen Urkell e tomar um copo de cerveja direto do barril de carvalho foi uma. E a outra foi o porrete de becherovka que tomamos e voltamos para o hotel a pé às duas da manhã, atravessando a ponte de Carlos com uma lua cheia gigantesca.

Dois dias depois da corrida de fórmula 1, vi um milionário maluco apostar em todas as rodadas 2 mil euros, no casino de Monte Carlo. Ele perdeu em 20 minutos algo próximo a 30 mil euros.

Subir o pico do Marumbi, no primeiro dia do ano foi superação total. Nossa Morretes merece ser vista com mais carinho, que lugarzinho bacana.

Óbvio que vai faltar um monte de história para contar, mas se não veio na cabeça é porque não veio. Talvez na próxima trilha ano que vem, hahaha.

Não tenho como objetivo conhecer um número especifico de países, mas ainda falta muuuuuuita experiência para viver. Perceber que o passaporte que está na gaveta do armário da sala é uma ferramenta de transformação e evolução me fez um bem danado.

Rodeio alguns lugares desse mundo, e termino meu depoimento com uma lembrança da minha cidade, Curitiba. Parafraseio Leminski para te provocar, afinal “espero que todos se divirtam, não há mais muito a fazer nesse mundo”. E o seu passaporte, por onde anda?

Esse texto não tem objetivo nenhum de promover algum país, cidade, região ou estado, bem como nenhuma empresa. Se você se achou nesse texto, quer comentar algo ou ficou com alguma dúvida, grita aqui: joaoguilherme@labadeetour.com.br

Um forte abraço,

João Guilherme Rebellato