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Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.
Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.
Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor.
Conhecer o frio para desfrutar o calor.
E o oposto.
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto.
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”

 

Esse trecho do livro “Mar Sem Fim”, de Amyr Klink, é um mantra que inspira muitos viajantes mundo afora, e comigo não é diferente. Em recente viagem ao Jalapão, chegando no primeiro atrativo, o Cânion Sussuapara, em uma estrutura super simples, eu me deparei com um humilde quadro na entrada do atrativo. Lá estavam esses dizeres do Amyr, que, para muitos, é só um quadro e passa despercebido. De repente, toda a movimentação daquela viagem já fazia muito sentido.

Bom, vamos lá, o Jalapão é uma região que fica no estado do Tocantins, o estado brasileiro mais novo, e a sua porta de chegada é a capital Palmas. De difícil acesso, é uma das regiões mais preservadas do país, entre dunas, fervedouros, pôr do sol e cachoeiras, está um dos mais lindos e bem preservados cenários brasileiros. 

O Jalapão já estava na minha lista de destinos há algum tempo, com a desculpa de um aniversário. Com 30 mil milhas da LATAM e uma recepção digna de pioneiros no Jalapão, eu me joguei para conhecer o Korubo Safari Camp. Um glamping que fica dentro de terras quilombolas, às margens do Rio Novo, e que comanda uma operação de imersão total na natureza desde 2000. Neste texto, você vai perceber que usarei muito 3 palavras: Experiência, Momento e Detalhe!

Diz a lenda que o nome Jalapão foi dado por causa de um tubérculo típico da região, chamado jalapa. A partir desse tubérculo, fizeram uma cachaça conhecida como jalapinha. Ao perceber que a dose diminuía com o passar do tempo, um sujeito chegou ao boteco e disse “Me veja um Jalapão aí!”. Desde então, a história ficou “Vou lá tomar um Jalapão”.

Eu me joguei na viagem com a mente e o coração abertos. Eu sabia que haveria mais pessoas na trip, mas não fazia ideia do que faziam, o que comiam e de onde vinham. Mas,  já vou logo te contando: um dos pontos altos da viagem foi a turma. Quando olhei as pessoas, percebi que não tinham nada a ver entre si, mas que match que deu!!! Sabe aquelas boas coincidências da vida? Então, essa foi uma que eu faço questão de contar.

Durante a viagem, conheci pessoas incríveis:

– Carinhosamente apelidado de Barack Obama, Raimundinho foi o chefe da galera. Dono de uma empatia impressionante, ele presenteou a todos com muita música boa e palavras certas nas horas exatas. Boêmio da zona leste de “Sampa”, ele acompanhou a bagunça o tempo todo. Para você ter uma ideia, o nome do grupo do WhatsApp é “Amigos do Barack!”;

– Como consequência,  a esposa do chefe, chamada Wilminha, foi apelidada de Michelle Obama. Alegre e parceira, ela sempre tinha uma palavra de amor para soltar;

– Meu parceiro de acomodação, Marcelo, sempre tinha de tudo na mochila. O cara é o mestre da TI, e, junto com o Barack, arrebentou na viola e na caipirinha. Estava vindo de Bonito e viajava sozinho pela primeira vez;

– Já Hudson e Fábio, ambos moradores do Rio de Janeiro, trabalham embarcados em plataforma no meio do mar. Um fazia a gente rir de dia e o outro à noite;

– Ana, de “Sampa”, viajava sozinha e era a mais discreta da turma. Ela mostrou muita coragem ao encarar o medo da água na canoagem no Rio Novo;

– Tamiris, carioca do Méier, foi apelidada de MM (Miss Méier). Ela era a rainha das fotos, pois deu dicas para todo mundo sobre como caprichar nas poses. Alegre, bonita e divertida, ela sabia todos os funks na ponta da língua;

– Ana era minha parceira de profissão e de dia de aniversário. Comemoramos o aniversário com um bolão “de respeito” e uma jarra de caipirinha. Sempre ficava até o fim e é namorada do Japa mais engraçado do planeta;

– O Japa ficou um dia e meio quieto. E, com uma chave geral, quando Marcelo soltou um Charlie Brown na viola, o cara ligou no 220. Com tiradas geniais e cantando simplesmente todas as músicas de todos os gêneros, o cara é o rei da tiração de sarro e simpatia. Ah, o nome dele é Daniel;

– Pedro é um carioca gente fina. Apelidado de “Gabriel, o Pensador” e dono de uma criatividade diferenciada, ele comanda as estampas de uma marca famosa de roupas, no Rio, e viajava com a namorada, Letícia;

– Viajando junto da amiga, Tamiris, a Letícia é uma dentista carioca sempre bem humorada e com percepções bem aguçadas da natureza e do ambiente;

– Rafa e Vini são dois paulistas e amigos de infância. Dois caras gente finíssimas, engraçados e cachaceiros. Saindo do Jalapão, iam emendar mais uns dias no Ceará;

– Karol com K, advogada de “Sampa” que era muito parceira no rolê e ficava até tarde cantando com a galera. Ah, ela é especialista em tirar fotos conceituais em fervedouros;

– Carol com C, é mineira e trabalha com marketing em uma construtora de Belo Horizonte. Dona de um típico sotaque mineiro, ela comandou como ninguém a canoagem no Rio Novo, simplesmente encalhando em todas as margens do rio nos primeiros 500 metros.

 

Caso você ainda não tenha a experiência de viajar sozinho, faça. Você vai se surpreender, pois há algo muito especial nessa experiência. Para mim, normalmente, a viagem começa alguns dias antes. Gosto muito do processo de pensar no que levar, de arrumar as malas e tudo mais. Nesse caso, não foi diferente. Como eu estava indo para um glamping no coração do Parque Estadual do Jalapão, tentei tomar mais cuidado no checklist. Mas a LATAM mudou meu voo em cima da hora – isso tem acontecido muito – e tive que fazer a mala voando e partir para o aeroporto com o risco de ter esquecido algo. 

Quando vi, estava sentado na poltrona do avião, e ali já comecei a me desconectar do meu mundo comercial e entrar no modo mini férias. E percebi que tinha esquecido algumas coisas que estavam no checklist, mas lá na frente você vai entender que, no fundo, eu não precisava de nada além do que tinha. 

A ida foi cansativa, chegamos em Palmas quase 2h da madrugada. Até chegar ao hotel, fazer o check-in e tomar uma ducha rápida, devo ter ido dormir perto das 3h da manhã. Às 8h, todos estavam prontos na recepção, e o melhor: a partir dali estava tudo incluso no passeio, menos bebida alcoólica! 😊 

A Korubo Safari Camp fez um briefing de viagem e nos entregou o kit sobrevivência, com muito capricho em cada detalhe. Aí partimos! Aliás, a empresa é muito comprometida com a sustentabilidade, show demais isso. E a primeira regra ao embarcar nessa experiência incrível é: paciência, já que são horas de estrada de chão, uma vez que tudo é muito longe e demorado. Mas, prometo, vale cada minuto. Cada momento na estrada vem acompanhado de um visual incrível do cerrado brasileiro. Ansiedade, inquietações e pensamento no futuro foram dando lugar a uma calmaria gostosa, o modo avião no celular nunca foi tão bem-vindo.

                             

 

Em nosso primeiro dia de expedição, paramos no Cânion e chegamos ao acampamento no fim da tarde. Troca de carros, alimentação, parada para lanche, troca de equipe… tudo muito bem coordenado. A organização do acampamento impressiona, tudo muito bem pensado e montado. 

Localizada em uma comunidade quilombola, a Korubo não só se preocupa com o ecossistema do Jalapão, mas também cuida muito bem dos moradores locais. Além de auxiliar no transporte, com ajuda de custos, ainda emprega boa parte   deles no acampamento, deixando a comunidade mais sustentável. 

Uma soma de detalhes em tudo. Percebi rapidamente que o maior luxo seria a experiência que viveríamos a partir dali! Ao chegar, fiz um mergulho na prainha particular no Rio Novo e tomei uma cerveja trincando pra espantar a poeira da viagem. Depois de caipirinha de boas-vindas, apresentação da equipe e um jantar ótimo à noite, finalizamos curtindo um céu tão estrelado que mais parecia uma parede pintada à mão. 

                         

 

Na primeira manhã, despertei às 5h30 e aproveitei o nascer do sol observando a beleza da natureza no mirante. Minha mãe tinha colocado uma carta na minha mochila e dito para eu abrir só no dia do aniversário, então fiz isso vendo o sol nascer com a serra do Espírito Santo como cenário. Que momento mágico! Enquanto lia o recado da Neusinha, parece que entrei em um estado meditativo. Só conseguia sentir uma energia muito boa e forte, e uma sensação de agradecimento infinita, misturada com lágrimas molhando a folha de sulfite escrita à mão.

E assim cheguei aos 38. O dia foi incrível e fisicamente cansativo, mas, entre fervedouros e muita risada, a alma parecia que ia ficando mais e mais leve.  Jantar top, com direito a bolo, parabéns, muita caipirinha e roda de viola até as 3h da manhã. No dia seguinte, acordei com a maçã do rosto doendo de tanta risada!

Os próximos dias foram intensos e cheios de experiências e momentos muito especiais, incluindo dunas, pôr do sol, cachoeiras, fervedouros, a fazenda do Pablo Escobar e fogueira à luz das estrelas. Mas também foram dias cheios de sabores locais: buriti, seriguela, chambari e arroz com pequi foram alguns deles… ah sem falar nos sucos, que delícia! Sempre geladinho e natural, com sabores do cerrado brasileiro.

Essa semana que passou foi muito especial. O conceito do acampamento, a turma, o cenário, o aniversário, os sabores e, principalmente, a desconexão do virtual para se conectar com o que é real. A sensação de estar longe de tudo e de todos e não precisar de nada, absolutamente nada. Sabe aquela percepção do que realmente importa? Sabe aquele dito popular de que “menos é mais”? Sabe aquela frase absurda do Leo, “a simplicidade é o último grau da sofisticação”? Então, isso nunca fez tanto sentido.

Um agradecimento especial à galera citada acima que fez parte dessa viagem. À Cinthia e à Priscila da Korubo. Aos guias, Buri, Adail, Zé Filho; aos cozinheiros, Marcelo e Marcos. Vocês transformaram essa experiência rica em detalhes em momentos muito agradáveis.

À BWT Operadora, parceira de vendas da Labadee Tour, obrigado!

E aí, vai um trago de Jalapão?

Se você se achou no meu relato e quer comentar algo ou ficou com alguma dúvida e tem dicas ou sugestões, é só gritar aqui: joaoguilherme@labadeetour.com.br

Um forte abraço,

João Guilherme Rebellato