Alguns destinos parecem ter sido colocados na nossa jornada no momento certo, bem quando mais precisamos. Você já teve uma experiência assim? O João, da Labadee, passou por isso neste ano turbulento, quando fez uma viagem inspiradora para a Amazônia. Confira abaixo o relato dele:
Tivemos um ano e tanto, não é mesmo? Profissionalmente foi um desafio monstruoso e sem precedentes, algo jamais sentido pela indústria do turismo e de bares e restaurantes. No âmbito pessoal, 2020 foi um período com decisões extremamente difíceis, dolorosas e igualmente importantes.
Eis que me aparece uma viagem para a Amazônia, a convite do meu amigo Hermann. Topei de bate-pronto, por alguma razão. Na hora, outro amigo, o Marcello, também topou a empreitada.
Ah, a Amazônia, aquele lugarzinho guardado a sete chaves dentro do meu coração. Só tem outro destino que me traz essa mesma sensação: Fernando de Noronha. Bobo eu, né? Um misto de paz que alimenta o peito e afaga a alma, dando uma sensação tão boa que não sei nem explicar, mas recomendo que você experimente.
Eu sabia que a semana da viagem seria difícil. Pessoalmente, eu vinha de meses complicados, exaustivos e pesados. Demorei quase dois dias para me desconectar, mesmo sem celular. Doido, não?
Nos quatro dias que passei pescando, acreditar em mim mesmo era uma grande dúvida. Quando falo isso, faço uma completa analogia entre pescaria e a vida. Eu me questionei tanto que, em algum momento, perdi a fé. Muita, mas muita pescaria com pouco peixe. Isso foi tão contraditório que, com esse sentimento rápido e pontual, cravei para meu parceiro Marcello: quinta será nosso dia!!! Eu precisava acreditar em algo.
Como um bom taurino, não largo o osso tão facilmente, e um dos meus grandes defeitos (minha teimosia) virou uma habilidade interessante. Insisti tanto, mas tanto, que sabia que, de alguma maneira, a recompensa chegaria.
Depois de quatro dias de muita exaustão e cabeça abalada, sem uma ÚNICA foto de peixe, senti algo diferente naquela quinta-feira. Ela chegou e, com ela, um sentimento forte, como se fosse um recado da floresta, dizendo “Fique calmo, pois algo bom está te esperando”. Não sabia exatamente o que era, mas tinha algo de diferente no ar.
Passamos a manhã pescando sem grande sucesso e, perto da hora do almoço, entramos em um lago pequeno, onde uma dupla de pescadores nativos caçavam tracajá. Ao parar para oferecer um Guaraná, um deles disse: este lago não tem peixe, mas o outro lago, depois do Paranã, tem!”. Essa frase entrou na minha cabeça e alimentou a minha alma. Na hora, eu confirmei com o nosso guia se ele sabia chegar lá. Ele acenou com a cabeça e seguimos viagem!
Logo na primeira entrada, o Marcello, meu parceiro de viagem, acertou uma bomba de um tucunaré gigante. Alegria absurda em compartilhar aquele momento, linda captura e MUITAS fotos legais dentro d’água. Foi uma explosão de adrenalina. Eu, mesmo feliz com isso, sabia que precisava de algo a mais para chegar aonde gostaria….já passava das 3h da tarde e o sol estava escaldante, o suor escorria pelo corpo inteiro, as mãos estavam cheias de dor e bolhas e os músculos chegaram à exaustão, mas eu sabia que não era a hora de parar.
Tenho um mantra que a Neusinha me ensinou: “Filho, nas horas difíceis, aumente a intensidade do bom trabalho”. Foi quando o guia cantou: “João, coloque a hunter bait (isca grande para peixe grande)”. Acatei na hora e não parei de pescar um minuto sequer. Com uma fé inabalável, senti a hora chegar, puxei o ar fundo a plenos pulmões e soltei bem devagarinho. Foi um arremesso longo, no fundo de uma grutinha, com a hunter bait estalando na superfície quente da água e saindo fumaça da carretilha. Foi quando, de repente, péin! Um botijão de gás explodiu na isca. imediatamente, eu sabia que era ELE, seu tucunaré açú.
O coração disparou, a perna tremeu e, como em um passe de mágica, entrei em um estado crônico, de graça, êxtase e pressão. Parecia que eu estava numa bolha, escutando a linha sair freneticamente da carretilha ao mesmo tempo que ela cortava a água numa agressividade impressionante. Não sei como, mas consegui controlar a respiração e eu sentia o coração querendo pular pra fora. Um toquinho jaguara no meio do lago, mas com um trabalho ímpar da equipe do barco, nós desenroscamos e voltamos para o meio do lago. Eu continuava a respirar fundo, esperando a emersão do gigante.
Tudo isso não deve ter demorado um minuto e meio, mas pareceu uma eternidade. O berro de alegria, a batida com força no peito como se dissesse para mim mesmo: “aqui não, aqui não!” Aqui tem fé e muita fé. Prazer em revê-lo seu tucuna. Ainda fiquei uns 20 minutos tremendo com a adrenalina no corpo e, ao voltar para o barco, fomos agraciados com um pôr-do-sol maravilhoso no querido rio negro.
A minha sensação de agradecimento era tão grande que, enquanto eu navegava, as lágrimas não hesitaram em cair copiosamente, misturadas com gargalhadas e uma cerveja trincando. Aquele peixe tinha sido muito simbólico. A floresta me deu uma aula de vida que jamais vou esquecer: nunca desista da sua fé, muito menos em você mesmo! Welcome to the jungle, babe!
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