Eu quero te contar uma experiência incrível que tive ao fazer trekking. Saí de Cusco, no Peru, e fui até Machu Picchu, a cidade perdida, caminhando. Em 4 dias de trilha, estive cercado por visuais de tirar o fôlego e recuperei as energias dormindo em lodges muito charmosos. O programa se chama LARES, e mistura trekking com atividades culturais locais com guias especializados. Diga-se de passagem, é um programa imperdível!
Fazia algum tempo que eu não viajava sozinho. Nas últimas vezes, sempre estive acompanhado de amigos, família ou colegas, a trabalho. Se você ainda não é adepto ou nunca vivenciou essa experiência, eu recomendo.
Passei a madrugada no avião no trajeto de Curitiba para Cusco e tive praticamente apenas uma tarde de adaptação à altitude. Chegando ao hotel, tentei descansar o máximo possível e me hidratar muito, pois as atividades começariam logo pela manhã do dia seguinte.
Eu nunca tinha feito trekking antes e sabia que seria um grande desafio, já que, além de ter que encarar a altitude, meu joelho esquerdo incomodava há algum tempo. No entanto, eu estava decidido a encarar a aventura. Após um casal de norte-americanos, dois britânicos e um trio da Nova Zelândia se juntarem ao grupo, estava formado o nosso time, que mostrou muito bom humor logo no briefing.
Não sei se você já fez trekking, mas, para mim, foi uma novidade. Ao mesmo tempo em que estávamos em 10 pessoas, em diversos momentos eu me senti completamente sozinho, com milhões de pensamentos vibrando na cabeça. De repente, vieram à mente as lembranças de todas as viagens que eu já tinha feito até então, dos lugares e pessoas que conheci, e isso começou a ficar muito divertido! Percebi que o meu maior bem até então é o meu passaporte.
Por meio do meu trabalho (sou agente de viagens há quase 20 anos), tive a oportunidade de conhecer muitos lugares – cerca de 70 países. Comecei a ir mais a fundo e puxei na memória minha primeira viagem internacional aos 7 anos, quando embarquei para a Patagônia, na Argentina, e fui conhecer a famosa Bariloche.
Meio que sem querer, nunca mais parei. Virei um apaixonado por viajar, conhecer lugares, culturas e povos diferentes. Resolvi colocar no papel todo esse turbilhão de ideias, memórias, lembranças e anseios, mas, em vez de escrever meus 20 lugares favoritos ou fazer uma lista dos 10 melhores destinos, prefiro contar para você o que cada lugar que conheci marcou em mim, seja a partir de uma excelente ou até uma péssima lembrança.
A regra é simples: não vai ter regra. Vou escrever sobre países, cidades e regiões de forma aleatória, deixando a memória fluir sem qualquer preconceito ou julgamento. Não vou citar nome de nenhum parceiro de viagem, sob pena árdua de esquecer alguém e cometer grave injustiça.
Experiências
Claramente, você vai perceber que museus e igrejas não são o meu forte. Busco em minhas viagens ter experiências locais, sempre muito voltadas a beber e comer como os nativos de cada região. Embarque comigo nessa aventura que deliciou minha cabeça durante meu caminho a Machu Picchu.
Labadee no Haiti ficará marcado para sempre na minha existência. Eu jamais esquecerei o mergulho livre que fiz aos 12 anos de idade, e a receptividade daquele povo. Que lugar incrível!
Às 4:40 da manhã, participei de uma cerimônia de oferenda aos monges budistas no Laos.
Nunca sairá da minha memória o mergulho com tubarões martelo nas ilhas Galápagos, que medo!!!
Entrei no castelo de Salzburg, na Áustria, e me arrepiei inteiro, tive a certeza absoluta de que já estive naquele lugar.
Uma cavalgada molhada e gelada, que foi compensada com um belo vinho e um churrasco típico Uruguaio nos Pampas do Sul.
E como não lembrar da atolada de 4×4 a caminho de Santa Teresa, na Costa Rica? Que noite tensa!
Na Amazônia, pousar de hidroavião no meio da selva e na mesma viagem engatar um tucunaré de 20 libras… não tem preço.
E os 250 dólares que ganhei no cassino em Punta Cana, hein?!
Conheci bem os Estados Unidos, morei lá em duas oportunidades. Destaco muito as viagens para o Hawaii e para o Alaska, mas marcante mesmo foi a jornada de 8 horas caminhando do topo do Grand Canyon ao rio Colorado. Épico.
Ah Paris… comer mexilhão e tomar um vinho branco com a minha mãe nas ruas ao lado da Sacré Coeur foi inesquecível.
Entrar na Basílica do Sangue Derramado e encher o olho de lágrima em São Petersburgo, na Rússia, foi emocionante.
E que tal se atirar de AK-47 e entrar e caminhar pelos túneis de Cuchi, no Vietnã? Que lugar quente e apertado.
Certa vez, depois de uma Paella, tomei um porrete de rum em um bar cubano de Madri e não sei como acordei.
O que foi a briga com os Italianos na cidade de Téramo, quando nosso time de handebol do colégio foi jogar um campeonato na Itália? Esses caras são meus amigos até hoje.
E o que dizer da subida a pé na Muralha da China? Era 2:30 da tarde e fazia um frio de 0ºC… que loucura.
Em 2012, passei 12 dias pescando, mergulhando e surfando com 12 amigos. Tudo isso a bordo de um veleiro nas ilhas Maldivas.
E o que você me diz da experiência de mergulhar com um tubarão branco e surfar a tão famosa onda de Jeffreys Bay, na África do Sul?
Do Panamá, ficou na cabeça a estrutura impressionante das eclusas, que experiência incrível.
Do meu Brasil, não tenho como não falar de Noronha, um dos lugares mais lindos do planeta Terra. E o Carnaval no Rio e em Salvador, meu povo? Não percam essa chance de conhecer o seu país, já!
Quero falar também da incrível experiência de conhecer Berlim inteira de bike, tomar uma cerveja num pub de 1800 em Amsterdã e trocar de copo de cerveja na cidade de Bruges, na Bélgica, a cada rodada. E o porrete na Oktoberfest de Munique? Quanta alegria! Comer carne de urso na Estônia e de veado na Finlândia na mesma viagem, dar aquela namorada na cidade norueguesa de Oslo, na qual o que mais me impressionou foi o valor do salário mínimo: 3.800 euros.
De Londres, minhas primeiras lembranças são as nuvens e o vento gelado, quanta injustiça! Mas, ao caminhar em plena Oxford Street, vi três gerações de muçulmanos lado a lado, e como a globalização afetou seu modo de vestir, é algo muito interessante. O avô estava todo nos conformes da tradição, com o turbante e a barba grande, já o filho tinha a barba bem mais curta e roupas mais comuns, enquanto o neto tinha uma barba rala, tênis sem meia e um iPhone nas mãos. Thanks, Steve, good job!
Em Bangkok, eu vi um campeonato de Muay Thai em um estádio lotado. Lá também tive meu primeiro encontro com o Budismo.
Devorei uma carne malpassada com molho agridoce de pimenta dedo de moça na cidade de Füssen, o que tentei fazer igual várias vezes, mas não consegui. Que combinação! É por lá que começa a rota dos castelos no sul da Alemanha. Tomar uma cerveja na warpig em Copenhagen comendo uma fraldinha com a mão e cercado apenas por dinamarqueses foi uma experiência e tanto.
Fazer uma sessão de surf no KM 59 em El Salvador só com os amigos foi algo inédito. Acordar de madrugada para ver o sol nascer nos templos de Angkor Wat, no Camboja, foi incrível.
De Dubai, lembro de um pedaço de carne gigantesco e saboroso que comi depois de 12 dias só comendo peixe nas Maldivas.
Ah Istambul, tenho que abrir um novo parágrafo para falar dessa cidade. Tenho tantas lembranças sensacionais de lá que até vou quebrar a regra que eu mesmo criei e citarei várias passagens. A primeira lembrança é de um jantar no Heina, às margens do Estreito de Bósforo, com dois tios muito queridos que já não estão mais aqui. Capital do império otomano, Istambul fica metade na Ásia e metade na Europa. Que choque cultural!
Falar dos monumentos históricos é chover no molhado, mas eu tive uma passagem por aquela região que me chamou a atenção. Estávamos com a Alessandra, guia brasileira que mora lá e nos sugeriu um tour com os transportes locais. Aliás, quando tiver essa chance, opte por isso. Ao entrar no ônibus, eu percebi que, quando ela foi pagar nossa passagem, o cobrador deu dois toques na mesa, ela soltou o dinheiro e ele pegou. Ela viu que percebi a situação e logo tratou de me explicar: “João, aqui os muçulmanos são divididos em sunitas e xiitas, e um não pode encostar a mão no outro’’. Que loucura, né? O mesmo povo, a mesma religião e eles não podem se encostar? OK.
Sigo buscando as lembranças, mas está começando a ficar difícil. Já visitei alguns museus incríveis: Hermitage, D’orsay, Louvre, Metropolitan, Olho, História Natural, Arte Islâmica, Anne Frank, entre outros. O que eu mais gostei foi o de Van Gogh, em Amsterdã. Não sou muito de museu, mas todos valeram a pena.
Doha foi onde eu tive meu primeiro contato com o mundo árabe. É uma cidade interessante que tem mais carro do que gente!
Da Argentina, eu tenho várias lembranças, mas a melhor delas foi uma pescaria de dourados de Fly Fishing que fiz no delta do rio Paraná. Já no Chile, a navegação no Estreito de Magalhães foi maravilhosa.
Eu me lembrei de um festival de jazz e blues no meio da rua em New Orleans… quero voltar lá. Outra vez, quase perdi o embarque do navio em Saint Marteen, e, por pouco, não me dei muito mal em uma pescaria no meio da selva colombiana, onde dormi em uma tribo indígena.
Vou ser injusto: da minha passagem pela Grécia, lembro do azeite de oliva e da salada grega. Peguei um dia de muito frio no fim de maio e não teve praia, mas faz parte!
Entrei na menor catedral da Europa na Croácia, e tomei a cerveja mais barata daquela semana.
Estava sendo cruel com a minha memória. Que noite maravilhosa eu passei em um hotel dentro do Monte Saint-Michel, na Normandia.
Da República Tcheca, tenho duas histórias boas. Visitar a fábrica da Pilsner Urquell e tomar um copo de cerveja direto do barril de carvalho foi uma delas. E a outra foi o porrete de becherovka que tomamos e depois disso voltamos para o hotel a pé às 2:00 da manhã, atravessando a ponte de Carlos com uma lua cheia gigantesca.
Dois dias depois da corrida de fórmula 1, vi um milionário maluco apostar 2 mil euros em todas as rodadas, no casino de Monte Carlo. Ele perdeu em 20 minutos algo próximo a 30 mil euros!
Subir o pico do Marumbi, no primeiro dia do ano, foi uma superação total. Morretes merece ser vista com mais carinho, que lugar bacana, apesar do tamanho pequeno.
É óbvio que vai faltar um monte de história para contar, mas se não veio na cabeça, é porque não veio. Talvez na próxima trilha!
Não tenho como objetivo conhecer um número específico de países, mas ainda falta muita experiência para viver. Perceber que o passaporte que está na gaveta do armário da sala é uma ferramenta de transformação e evolução me fez um bem danado.
Rodeio alguns lugares desse mundo, e termino meu depoimento com uma lembrança da minha cidade: Curitiba. Parafraseio Paulo Leminski para te provocar, afinal, “espero que todos se divirtam, não há mais muito a fazer nesse mundo”. E o seu passaporte, por onde anda?
Este texto não tem objetivo nenhum promover algum país, cidade, região ou estado. Se você se achou no meu relato e quer comentar algo ou ficou com alguma dúvida e tem dicas ou sugestões, é só gritar aqui: joaoguilherme@labadeetour.com.br
Um forte abraço,
João Guilherme Rebellato